CARTOGRAFIAS DO POSSÍVEL
Setembro de 2011
Setembro de 2011
“O próprio artista vive uma experiência completa, relativamente requintada, e a obra, nascida de seu cérebro, provocará, no espectador capaz de experimentá-las, emoções mais delicadas, que nossa linguagem é capaz de exprimir.”
Kandinsky
O universo feminino, abordado em verso, prosa e cor, nos motiva a atravessar um olhar de admiração à tanta coragem e desvela nossa imaginação, na medida em que buscamos respostas a inúmeros questionamentos nesse espaço ainda tão diferenciado.
É com este olhar de sensível que permeio meu processo de criação, usando a pintura para recortar em cores, linhas, formas e dentro do meu cotidiano, esta inspiração, que traz a urgência de evocar em um espaço pictórico a visão da mulher, tantas vezes discriminada.
Ao me utilizar de fragmentos das obras de Gustav Klimt (artista austríaco1862 - 1918) que revela esse mundo feminino, permeado de vaidade e luxúria ao retratar as donzelas da época, apresento a delicadeza e ao mesmo tempo a coragem das mulheres que hoje trabalham nas ruas da nossa cidade. Personagens que traduzem sentimentos e histórias, discurso em imagem da dura realidade que nos leva a contrapor e a refletir sobre o discurso histórico de mulheres de uma elite que posavam para renomados artistas.
Essa verdade tem como propósito, apontar esse corpo exaurido que se mostra, se expõe, sem abrigo e sem amparo ao comércio do possível, na maioria das vezes, ilegal, talvez a espera de uma atitude humanizada por parte da sociedade.
São cantoras, vendedoras de flores e sorvetes, catadoras de lixo, carteiras, pedintes, varredoras de rua, policiais, entregadoras de panfletos.
Meninas, adolescentes e mulheres. Todas fazem da rua o seu local de trabalho, o campo de batalha, registrando a sua realidade de insegurança e possibilidades, ultrapassando seus medos, na contraditória fragilidade, acreditando bravamente em sonhos de futuro.
“Homens e mulheres estão mergulhados de tal forma em relações de poder, que seus assujeitamentos são tomados muitas vezes como naturais: são naturalizadas a força masculina e a correlata fraqueza feminina, a maternidade feminina e a exacerbada sexualidade masculina, a racionalidade do homem e a emotividade da mulher. A violência masculina e a passividade feminina, bem como a circulação em espaços públicos pelos homens em oposição aos espaços domésticos destinados às mulheres. A crítica a essa naturalização como agente do obscurecimento da historicidade é uma das ferramentas do feminismo e dos estudos de gênero para a superação da desigualdade entre homens e mulheres”.
(SENA, Tito. Interdisciplinaridade em Diálogos de Gênero)
Pensar nessas mulheres e retratá-las em cada obra, é também buscar uma poética de reconhecimento por tanta bravura. Em cada pincelada, um aplauso, em cada pigmento, uma angústia...
Janete Machado
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